Tenho recebido algumas perguntas sobre guitarra para iniciantes.
O propósito desse blog é buscar os melhores timbres, os melhores sons, então o intuito não é diretamente falar disso.
Mas fiquei pensando e acho que se realmente as pessoas “começarem bem”, ou tiverem boas dicas de como começar e se manter no meio “guitarrístico” / musical no Brasil, eu ficaria feliz e os visitantes do Growl ficarão felizes. E voltarão sempre!
Então decidi fazer um post sobre guitarra para iniciantes.
Então vamos lá: algumas dicas minhas sobre a relação com a guitarra e os equipamentos musicais (se estava esperando um blog com cifras de músicas e técnicas musicais para iniciantes, errou de lugar).
Primeiro mito – “Vou comprar equipamentos bons para tocar melhor e impressionar meus amigos e a mulherada”
Se você tem grana e pode comprar equipamentos bons, vá lá. Comprar uma Fender ou uma Gibson logo de cara certamente vai satisfazer seus desejos consumistas e certamente vai impressionar 4,76% da população feminina que sabe distinguir uma Fender e Gibson de uma SX ou Tagima (ou mais, de uma Suhr ou Paul-Reed-Smith). Mas comprar equipamentos bons vai te fazer tocar melhor apenas um pouco, na parte relacionada ao “playability”, ou “tocabilidade”.
Imagine um instrumento grosseiro, uma guitarra feita com madeira de caixa de uva e cordas de arame farpado, com um captador que fica bem no lugar onde você palheta e os trastes desnivelados te fazem forçar a pestana de tal forma que seu indicador parece que foi usado para passar cerol em pipa. Ok, ok, você nem sabe o que é um traste nem pestana? Mas pegou a ideia. Mesmo guitarras comuns, de marcas desconhecidas, podem te ajudar a tirar um bom som. Elas costumam ser feitas com madeira razoável e são feitas por marcas que no mínimo querem continuar no mercado, não podem empenar, explodir ou dar choque. O mesmo vale para equipamentos como amplificadores e pedais.
E vão te ajudar a aprender a tocar, que é o principal, não é?
Você terá investido 1/5 ou menos do seu sonho de consumo em algo que vai te fazer pegar o gosto pela coisa. Se desistir depois de 6 meses, você não estará com um instrumento na mão para vender. Que nos leva ao segundo mito.
Segundo mito – “Se eu comprar um equipamento mais caro e depois desistir, não vou perder dinheiro.”
Isso é parcialmente verdade, mas tem alguns detalhes. Tente imaginar para quem você venderia uma Gibson Les Paul usada. Se você tem diversos amigos músicos, pense: por quê eles ainda não tem uma Gibson Les Paul? Geralmente poque músicos no Brasil costumam ser curtos de grana.
Se eles já tem uma Gibson Les Paul, para quê comprariam outra???
Ah, vou vender no Mercado Livre…
já pode imaginar que para não ter que derrubar o preço do instrumento você terá que vender para alguém da sua localidade.
Sim, pois quem paga mais de R$ 3.000,00 (sendo bonzinho) num instrumento vai querer ver ao vivo, plugar num amplificador e tocar, negociar cara-a-cara, etc. Fora que o transporte seguro de um equipamento costuma ser caro, principalmente instrumentos e amplificadores. Para pedais menores já não digo. Lembre-se das comissões (“começões” do MercadoLivre).
Ah, deve ter loja de usados que compra.
Tem, e conheço algumas na Teodoro que compram e vendem instrumentos usados. São lojas legais, bem localizadas e com vendedores experientes (que às vezes regulam o instrumento e dão garantia nos equipamentos usados) que certamente conseguirão passar adiante o instrumento… e que por isso terão que te pagar um preço abaixo do valor de mercado para compensar o trabalho deles, não?
Uma vez, conversando com o Serjão da extinta Box of Rock ele me disse que geralmente a compra é em torno de uns 20% a menos do valor de mercado (que seria o valor que você venderia no Mercado Livre, por exemplo).
Ah, vou vender pra um amigo meu que tem grana e quer começar a tocar.
Pode ser… mas não deixe ele ler o Growl!
“- Mas você disse que era parcialmente mito…”
Sim, pelos seguintes motivos:
- se você conseguiu comprar o instrumento por um preço legal: seu amigo que leu o Growl achou melhor te vender a Gibson dele por 30% abaixo do preço de mercado na amizade, ou comprou numa viagem no exterior e não foi parado na alfândega, vale a pena. Agora, pagar R$ 2.000,00 numa Fender Strato Americana nova na caixa paga qualquer preju que tenha com o instrumento pro resto da sua vida.
- um bom instrumento conserva seu valor. Se você não desistir de tocar, inevitavelmente um dia vai querer ir para um instrumento melhor e perderá o investimento feito (por menor que seja). Se estiver bem cuidada, uma guitarra de marca com uns 30 anos de idade costuma inclusive ganhar valor. Mas isso vale para instrumentos musicais e alguns amplificadores. Não para outros equipamentos como pedais, cabos e muito menos pedaleiras, mesas de som, etc.
- às vezes tocar num instrumento legal, curtir pagar de Slash, os mano inveja e as mina pira vão aumentar suas chances de continuar tocando, e aí não precisará se desfazer do instrumento.
Tá, chega de mitos e verdades… o que devo fazer?!?!
Um bom começo: se conhece algum amigo que toca guitarra e manja do assunto, inferniza o cara.
Pesquisa, pesquisa, pesquisa… é só procurar o que quer no Google e você acha. Dê preferência a fóruns sérios como o CifraClub e aos sites de fabricantes. O YouTube tem vários vídeos de demonstração e review de produtos que, dependendo da qualidade do áudio, dá pra saber bem como o equipamento se corporta.
Não acredite em tudo que te disserem – isso é extremamente válido, principalmente os vendedores de lojas de instrumentos musicais! Obviamente ele vai te dizer que o equipamento mais caro é melhor e nem sempre isso é verdade. A paixão por instrumentos musicais e equipamentos nos faz comprar muitas coisas sem precisar (aguardem post sobre a chamada GAS – Gear Acquisition Syndrome).
Isso tudo para você tentar responder a pergunta: o que eu preciso de verdade?
Vai depender muito do seu estilo musical, se toca em banda, se toca ao vivo, etc. Mas vamos a um exemplo prático muito comum: moleque espinhento na casa dos 16-18 anos a fim de montar uma banda de rock (“mais pra metal”, ele diria). Vai precisar da camiseta preta, claro. E vai precisar da guitarra, de um amplificador, um cabo e palhetas. Lembre-se da correia (aquele cinto para apoiar a guitarra no ombro pra tocar em pé, que os vendedores te dão quando compra a guitarra), cordas sobressalentes e de preferência, um case para proteger a guitarra.
Muito bem, qual guitarra?
Uma decisão EXTREMAMENTE pessoal, como o tipo de cueca que às vezes se prefere justa, às vezes aerada, às vezes boxer, às vezes compra errada e aperta e você usa mesmo assim. Só não dá pra não ter a guitarra.
Qual é o padrão e conceito que ficou na cabeça de praticamente todo mundo?
Stratocaster: o típico formato desenhado pela Fender nos anos 50 (aquela do Hendrix e do Clapton), tipicamente usa captadores single-coil (apenas uma linha de imãs, com som mais suave e tendendo aos agudos). São bem versáteis e geralmente mais baratas que as Les Paul, são mais leves e o formato da curvatura da escala costuma facilitar principalmente para quem tem mãos pequenas.
Les Paul: o típico formato desenhado pela Gibson (aquela do Slash, do e do Zakk Wylde), tipicamente usa captadores humbucker (duas linhas de imãs, nem sempre visíveis, com som mais meloso e encorpado). São mais caras e pesadas, tem ótimo sustain e costumam ter a ponte fixa (sem alavanca).
Jackson / Ibanez / Yamaha: existem alguns modelos muito usados no heavy metal e se posicionam no mercado como tal, são guitarras que seguem uma linha geral da stratocaster, mas são mais alongadas, geralmente mais finas, usam na maioria humbuckers para metal que são mais estridentes e costumam ter a dor-de-cabeça em formato de peça de guitarra que são as pontes com microafinação.
Telecaster: da Fender, muito utilizada em música country, principalmente pela característica de som dos seus captadores (geralmente single coil tipo soapbar) mais estalado. É usada por Keith Richards, por exemplo, e mais dia menos dia todo grande músico já usou.
E muitas mais… como Gibson SG (a que o Angus Young do AC/DC usa; The Doors usava também); Gibson Explorer (Metallica); Gibson Flying V (Faith no More, Albert King), Gibson Firebird (Johnny Winter), Fender Jaguar / Mustang (parecidas mas diferentes entre si, Kurt Kobain e Magic Slim).
Se fosse eu, daria uma volta na Teodoro e compararia os preços de umas novas “genéricas” como SX, Cort, etc (Strinberg não conheço direito, próxima ida lá eu dou uma brincada pra ver). Lembrando que são marcas que costumam copiar grandes marcas, então o modelo tipo Strato da SX vai copiar o som de uma strato, uma Cort tipo Les Paul terá lá seus captadores tipo humbucker e tudo.
E provavelmente eu compararia com algumas guitarras um pouco melhores nas lojas de usados (umas Tagima mais antigas, umas Fender Squier usadas, umas Yamaha e Ibanez usadas, etc).
Para o amplificador, vale a pena comprar usado, se puder testar e ver que está ok (que o alto-falante não está estourado, que os potênciômetros não fazem muito chiado, se não está dando choque, se não tem rato morando dentro, etc). Comece com um transistorizado, que será mais barato. A potência é medida em Watts, e deve ser RMS (potência real). Para tocar em casa, potência baixa. Para tocar em ensaios com bateria e churrasco com os amigos, pelo menos uns 20W… Pra tocar em lugar maior, uns 30W a 70W. Mais que isso eu não recomendo, mesmo que vá impressionar os outros… pra ensaiar e tocar em casa o volume estará muito alto (atrapalhando vizinhos e família). E difícil você tocar num bar grande pra um monte de gente que não tenha como microfonar e amplificar num P.A.
Se você toca rock, um dia vai querer migrar pra um valvulado. Mas espere esse dia chegar.
E os pedais e efeitos?
Veja aqui meu post que fala sobre Digitais versus Analógicos. Lá já menciono algumas coisas sobre as diferenças e se vale ter uma pedaleira.
Em resumo: sim, no começo vale ter uma pedaleira (e até ficar com ela por uns bons anos, por que não?). Inclusive a pedaleira será uma boa ajudante na definição do seu som, para descobrir que tipos de pedais e efeitos prefere, as melhores regulagens, aprender a tocar com wah-wah, essas coisas. Existem diversas opções boas no mercado, sendo as mais conhecidas a Zoom (tem alguns modelos diferentes), a Vamp (V-amp, da Behringer), as da Digitech, Korg e Boss.
Não estou atualizado nos modelos e efeitos e qual é a melhor, então nem vou me meter. Vale comprar uma usada sim, assim inclusive diminui o valor da perda caso desista depois (ou migre para pedais analógicos 😉 )
Esse post está meio insano de grande, então paro por aqui. Se eu lembrar de mais coisa edito o post ou coloco em posts novos.
Caso tenham perguntas e comentários, por favor comentem no campo abaixo.
Ah, e se meu post sobre Guitarra para Iniciantes ajudou em algo, por favor visite nossa loja e fique antenado com as novidades.